Existem gritos em minha mente e eu poderia até vê-los se não estivesse tão cego com as coisas ao meu redor. Um dia gritei para que eles parassem e deu certo, pararam... por alguns minutos é claro. Eu simplesmente não consigo por um fim nesta minha perturbação e dor. Meus ouvidos sangram e já se encontram desgastados e fracos. Já parei de ouvir as pessoas há algum tempo, e já não as entendo como antes. Tudo gira ao torno da minha mente agora. O mundo me olha incompreendido e preconceituoso, dizem que estou louco. Mas de fato, não pareço normal. Quem mais ouve gritos na mente? Quem mais sangra os ouvidos? À noite, quando todos se calam é quando os gritos aumentam. O silêncio cessou quando eu tinha 18 anos e tive um sonho perturbador, onde minha boca atravessa meu corpo indo até meus ouvidos e começava a gritar, mas era um grito de angústia. Eu não entendia porque estava tão amargurado, mas era uma dor forte dentro do meu peito que me fazia gritar, gemer e até arrancar as orelhas da cabeça. Acordei e já era noite. Os gritos já os ouvia de longe e com o decorrer do tempo eles foram ficando mais pertos. Até que cheguei ao estado atual. Deixei minha família aos 20 anos; Eles já não tinham ideia do que fazer comigo ou como me curar. Passaram por vários especialistas e a resposta era a mesma: Perturbação mental. Hoje estou sozinho e em precárias condições higiênicas, isolado do mundo e expulsado do universo. Sou como cuspe no esgoto e lama na calçada no inverno. Hoje sou um mendigo, jogado às pontes, aos becos e ruas escuras. Sendo expulso de todos os lugares me transformei no próprio grito. Surdo e mudo, agora sou o silêncio gritante da minha alma. Eu poderia ser normal, mas percebi que minha alma morreu naquele pesadelo, não sei o que houve, ou por que motivo ela teria para tal. Sou apenas corpo e mente. Entendi o porque dos gritos, entendi o porque do sangue. Eu tinha a alma perdida, e o que me restava eram apenas feridas.
Ronaldo Santos
Imegem: André Luiz Sens
- 06:10:00
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